segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Nordeste acelera uso do cartão de crédito


Quem entrar na loja de artigos esportivos Centauro do Salvador Shopping, localizada na capital baiana, e decidir comprar algum produto, pode se assustar com o tamanho de uma fila que se forma perto dos caixas. É só chegar mais perto, porém, para o susto se desfazer. Só enfrentam essa fila os clientes que desejam adquirir um cartão de crédito próprio da loja.

Lançado em outubro do ano passado em parceria com o Banco do Brasil e com a Visa, o cartão já atinge 130 mil clientes, dentre os quais 53% encontram-se no Nordeste.

"O ritmo chinês de crescimento da economia da região e a busca pela simplificação das compras explicam o maior sucesso do cartão em Estados como a Bahia", diz Cassio Miranda, superintendente da Centauro.

O baixo custo da anuidade - seis parcelas de R$ 8 - e o fato de ele ser aceito em qualquer estabelecimento conveniado com a bandeira Visa também aumentam o interesse pelo cartão.

Miranda cita números que evidenciam o bom desempenho dessa forma de pagamento. Enquanto no total das lojas da rede as compras com esse cartão de crédito próprio, denominado SportCard, representam 10%, no Nordeste esse número sobe para expressivos 34%.

Os consumidores nordestinos também atraíram a Cetelem, que hoje está presente com a bandeira Aura em cartões próprios de diversas varejistas da região como Jurandir Pires, Papel e Cia e Login Informática. Neste ano, o número de cartões emitidos pela empresa cresceu 36%.

Embora divulgue somente os dados globais, Franck Vignard-Rosez, diretor de marketing, vendas e novos negócios da Cetelem, diz que o incremento é puxado pelo Nordeste, onde a emissão de cartões avança acima da média do país.

A Cetelem também adquiriu em 2007 o banco BGN, com sede em Recife (PE), para entrar no mercado do crédito consignado.

Segundo o diretor da Cetelem, os plásticos não ficam esquecidos nas carteiras. "É um público que usa cada vez mais o cartão de crédito. A freqüência de utilização é muito boa, inclusive nas faixas de renda mais baixa", afirma Vignard-Rosez.

A região Nordeste é que mais cresce no país no setor de cartões. Os dados mais recentes mostram que, em julho, o avanço foi de 27,5%, com movimento estimado de R$ 4,2 bilhões em compras pagas com cartões.

As transações também tiveram na região crescimento acima da média nacional, com alta de 26,4%, segundo estudo preparado pela Itaucard, que avalia somente os cartões de crédito.

Foram 55 milhões de operações. A região nordeste encerrou julho com 17,2 milhões de plásticos - 28% do total de cartões existentes no Brasil.

No Nordeste, segundo o estudo do Itaú, a Bahia é o Estado que concentra a maior parte dos negócios do setor, responsável por cerca de 30% do volume financeiro movimentado por esse meio de pagamento em todo o Nordeste.

A Bahia também é responsável por 32% das transações e concentra 27% do número de plásticos espalhados pelo Nordeste. Em seguida, vem o Ceará, com média de 23% nas operações e Pernambuco (na casa de 18%).

No ranking nacional elaborado pela Itaucard, a Bahia já é o quarto Estado do país em faturamento para o setor, atrás dos tradicionais São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Depois da Bahia, aparecem Ceará e Pernambuco. Na avaliação de Fernando Chacon, diretor de marketing de cartões do Itaú, o forte crescimento no Nordeste é puxado pela baixa renda, que passou a usar mais essa forma de pagamento.

Para atingir a população de menor renda, contudo, é necessário flexibilizar a comprovação de renda. Como 20% dos clientes dos cartões Aura são autônomos e muitos outros não têm carteira assinada, a empresa se "obriga a ter meios de avaliação do poder aquisitivo das pessoas que não seja apenas o holerite", afirma o diretor da Cetelem. Extratos bancários e comprovantes de pagamento de carnês também servem como comprovação de renda.

A Centauro, que tem todo o processo dos cartões controlado pelo Banco do Brasil, aceita que os trabalhadores que ganham até R$ 800 façam uma declaração de renda de próprio punho. O mesmo método vale para os profissionais liberais que declararem ganhar até R$ 1,3 mil. Segundo Miranda, 70% das propostas recebidas pela Centauro são aprovadas.

O Hipercard, cartão que pertencia ao supermercado Bom Preço e foi adquirido pelo Unibanco no início de 2004, já não reina sozinho no mercado nordestino. Embora nada menos do que um terço das compras efetuadas com cartão de crédito na região sejam feitas com plásticos da marca, Ivo Vieitas, diretor-geral do Hipercard, afirma que a competição cresce a cada dia e, por isso, a empresa aposta em uma boa base de clientes - leia-se adimplentes - para continuar a crescer. O Hipercard tem a seu favor a tradição no comércio local, além da gratuidade e da flexibilidade de limites de gastos, que são revistos mensalmente. Quem gasta bem e paga em dia tem mais crédito.

Uma das explicações para o forte uso dos cartões no Nordeste vem do próprio Hipercard. Foram os cartões dessa bandeira, em algumas cidades mais usados que os da Visa e os da MasterCard, que disseminaram a cultura do pagamento eletrônico na região. Ao contrário do Sul do país, que tem renda bem maior que o Nordeste, mas pouca tradição no uso de cartões. Somente em 2000 as lojas do Sul começaram a aderir aos cartões de crédito. Algumas redes importantes, porém, até hoje não aceitam esse meio de pagamento.

No Nordeste, até aldeias indígenas vendem artesanato e aceitam o pagamento com cartão de crédito. A VisaNet, empresa que credencia estabelecimentos comerciais para a Visa, credenciou recentemente uma aldeia de índios Pataxós, no município de Porto Seguro (BA), que recebe intenso fluxo de turistas. Segundo Romulo Mello, presidente da Visanet, os índios foram treinados e já sabem manipular os máquinas leitoras

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