segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Puccinelli aparece em grampo da PF


Escuta telefônica feita pela Polícia Federal, com autorização da Justiça, registra uma conversa do governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), com Mirched Jafar Júnior, que foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ter participado da montagem de uma farsa para incriminar um adversário político do governador, o ex-deputado estadual Semy Ferraz (PT). Também foram denunciados o filho do governador, André Puccinelli Júnior, e o secretário estadual de Obras, Edson Giroto. Segundo o Ministério Público, o grupo teria articulado a colocação de “santinhos” de Semy, grampeados com notas de R$ 20, no interior do carro do coordenador da campanha do deputado, Benoal Sobral.

Em depoimento à Polícia Federal, o executor da operação, Edmilson Rosa, o Rosinha, assumiu a responsabilidade exclusiva da montagem da fraude, eximindo de culpa os outros três denunciados. A operação aconteceu em 29 de setembro de 2006, dois dias antes das eleições gerais. A procuradora regional da República Luiza Frischeinsen afirma na denúncia, oferecida em 15 de julho deste ano, que os quatro denunciados, “em comunhão de esforços e conjugação de vontades”, praticaram o crime de denunciação caluniosa, já que “encarregaram-se de colocar no veículo de Benoal Sobral materiais que poderiam incriminar o coordenador de campanha e o próprio candidato, posteriormente providenciando ‘denúncia’ anônima à Polícia Federal”.

Frischeinsen considerou importante acrescentar que, no momento em que conversava com Edminson, Mirched “encontrava-se na residência de André Puccinelli (na época candidato a governador do estado), juntamente com André Puccinelli Júnior”. A procuradora afirma que isso fica confirmado nos diálogos entre Mirched e o próprio governador (dia 29, às 18h16) e depois com Edmilson (às 18h29, 18h36 e 18h45 do mesmo dia). Na conversa das 18h16, Mirched fala primeiro com André Júnior. De repente, o filho do governador interrompe o diálogo, dizendo: “Só um pouquinho!”. Surge a voz de André Puccinelli: “Oi!”. Mirched responde: “Fala, meu chefe!”. O candidato ao governo pergunta: “Você pode vir aqui em casa?”. Em seguida, André Júnior retoma o telefone. Mirched pergunta: “Quem falou? Foi seu pai?”. André Júnior confirma: “É, vem aqui no apartamento”.

Por acaso
A Operação Vintém da PF teve início por acaso. No mesmo período, a polícia monitorava os telefones do escritório dos advogados André Puccinelli Júnior e Félix Nunes da Cunha, procuradores de um empresário acusado de contrabando de cigarros. Era a Operação Bola de Fogo. As escutas acabaram revelando o plano para tentar incriminar Ferraz, que acabou não sendo reeleito deputado. Em 29 de setembro, por volta das 19h30, outros agentes da Polícia Federal encontraram os santinhos grampeados em cédulas de R$ 20 no interior do Fiat Uno, de cor verde, placas BLH 4429, pertencente a Benoal. Somente mais tarde a fraude foi esclarecida pelas gravações feitas com autorização judicial.

No depoimento à PF, Edmilson afirmou que André Júnior , Giroto e Mirched só teriam tomado conhecimento da montagem que ele fez “após o ato concretizado”. Disse que o ato da implantação do dinheiro e da lista no carro foi “exclusivamente” seu. E acrescentou que o dinheiro utilizado (R$ 740) era seu. Edmilson afirmou que foi repreendido por Mirched quando o mesmo tomou conhecimento do fato. “Não é desse jeito que se faz política. Tinha que ser feito pelos caminhos certos”, teria dito Mirched. O executor da fraude acrescentou que também teria sido repreendido por André Júnior no dia seguinte. “Ô, doutor, não devia ter sido feito, abre precedente para eles fazerem contra a gente numa próxima ocasião. A eleição está praticamente definida, não tem essa necessidade”, teria afirmado o filho do governador.

André Júnior, Mirched e Giroto também prestaram depoimentos à PF e negaram participação na trama. André e Mirched confirmaram, porém, que participaram da reunião na casa do candidato André Puccinelli em 29 de setembro. Para o Ministério Público, a participação de Mirched, presidente regional do Partido Republicano Trabalhista Brasileiro (PRTB), “remanesce cristalina, em especial pelo teor dos diálogos mantidos com Edmilson Rosa”. Nessa conversa, Mirched pergunta: “Tá com a lista do Semy?”. Edmilson responde: “Já tá lá dentro. Cê pode mandar buscar…”.

Semy Ferraz afirmou na sexta-feira que vai apresentar representação criminal ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Silva e Souza, contra o governador André Puccinelli pela prática do crime de denunciação caluniosa, na qualidade de mandante. Se a representação for aceita, o governador será processado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).


Os grampos


Dia 29 de setembro de 2006.

18h16 – André Puccinelli Júnior está em um apartamento, junto com outras pessoas que demonstram muita ansiedade, inclusive André Puccinelli, e pede para Júnior ir até lá, para resolverem algo sobre a “lista” passada por Girotto:

André Júnior: “Você recebeu uma lista?”

Mirched Jafar Júnior: “Não”.

André Júnior: “Pois é. O Girotto tinha uma lista que passou para ele, que tinha que chegar ao seu conhecimento”.

Mirched: “Não. Não chegou nada a meu conhecimento.
Eu vou ligar para ele”.

André Júnior: “Só um pouquinho!”

(Voz ao fundo, que parece ser de André Júnior mesmo): “Quer falar com o Júnior da Gráfica?”
André Puccinelli (governador): “Oi!”

Mirched: “Fala meu chefe!”

André Puccinelli: “Oi!”

Mirched: “Fala!”

André Puccinelli: “Éhh…Você pode vir aqui em casa?”

Mirched: “Onde cê mora? Alou?”

André Puccinelli: “Pode vir aqui… em casa! Tá, eu vou passar p’ro Júnior”.

André Júnior: “Ôo… Júnior!”

Mirched: “Quem que falou? Foi seu pai?”

André Júnior: “Ô, Júnior…é…vem p’ra cá! Vem aqui no apartamento”.

Mirched: “Tô chegando”.

18h36 – Rosinha dá detalhes de como “plantou” a lista e dinheiro com santinhos no carro do assessor de Semy Ferraz::
Rosinha: “Eu tenho uma cópia da lista. Só que a lista que eles me deu (sic) eu pus dentro do carro do cara… Junto com o dinheiro e os santinho grampeado (sic)… Cabamos (sic) de pôr!… Ele tá dentro… tá na frente do jornal. Entendeu?”

Mirched Jafar Júnior: “Bom, cê… se isso vai acontecer… tem que acontecer em… meia hora!”

Rosinha: “Não! Já tá lá dentro. Cê pode mandar buscar. É isso que eu tô te explicando”.

Mirched: “Que carro que é?”

Rosinha: “Um Uno verde, você quer a placa dele?”

Mirched: “Eu quero”.

Rosinha: “Tá. Eu já te ligo aí”.

18h56 – Mirched Jafar Júnior informa, de maneira clara, que foi Girotto quem acionou a Polícia Federal:

André Júnior – “Alô!”

Mirched: “Liga p’ro Girotto, manda ele parar a PF, que ele mandou a PF atrás do cara”.
Voz ao fundo: “Passei p’ro homem já”.

André Júnior: “Hã”.

Dia 30 de setembro,
11h22 – Girotto e Mirched comentam e comemoram
o sucesso da manobra, dizendo se tratar de
uma vingança:

Mirched: “O que aconteceu ontem? Deu certo?”

Girotto: “Ah! Diz que caiu tudo”.

Mirched: “É certeza isso?”

Girotto: “Ué! Levaram, prendeu!. O cara lá me falou”.

Mirched: “Hummm… Então tá! Foi jubiloso o negócio lá!”

Girotto: “Nossa vingança será maligna!”

Mirched: “Tá bom. Um abraço”.

Girotto: “O André disse que passar a campanha vai lá tomar um uiski com você lá naquela tua casa, viu?”


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