quarta-feira, 11 de abril de 2007

Negociações, só com o Comando da Aeronáutica

Em conversa com o presidente da OAB, Paulo Bernardo afirma que controladores terão de discutir reivindicações com brigadeiro Saito


A esperança dos controlabedores de vôo de negociarem com integrantes civis do governo federal acabou ontem. A categoria terá que tratar diretamente com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, qualquer tema relacionado às suas reivindicações. A informação partiu do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que tinha uma reunião agendada para hoje com a categoria. Em conversa telefônica com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, que a pedido dos controladores tentava confirmar o encontro e saber o horário, Bernardo disse que a crise aérea é assunto exclusivo da Aeronáutica.

O fechamento de um canal direto com o Palácio do Planalto — conforme havia prometido Paulo Bernardo, enquanto negociava, em nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o fim da greve do último dia 30 — dificultará os entendimentos, segundo os controladores. Alvos de um Inquérito Policial Militar (IPM), que investigará a prática de crimes na paralisação do último dia 30 de março, a categoria está convicta de que a conversa direta com Saito deixa ainda mais distante qualquer solução para suas reivindicações, tais como reajustes salariais, revitalização de equipamentos e a desmilitarização da profissão.

Represálias
Francisco José da Silva Cardoso, diretor regional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, que reúne controladores civis, mostrou-se preocupado com as represálias sofridas pelos militares dentro dos centros de controle. “É o que, no meio civil, podemos chamar de assédio moral”, afirmou Cardoso, referindo-se às informações de que muitos profissionais estariam sendo perseguidos pelas chefias. “Um excesso de rigor caracteriza isso.”

O presidente da OAB, que recebeu representantes dos controladores ontem, ressaltou que pretende participar ativamente das negociações como interlocutor. “Ligarei para ministros, autoridades, para o presidente Lula, se for preciso”, destaca Britto. Ele anunciou que indicará um representante da entidade para acompanhar o Inquérito Policial Militar que investiga os operadores de vôo. “Será um observador, não um advogado constituído”, explica.

Embora tenha voltado a defender a desmilitarização do controle de tráfego aéreo, o ministro da Defesa, Waldir Pires, destacou que processo deve ser conduzido pela Aeronáutica. Ele lembrou que, por depender de mudanças constitucionais, a desmilitarização pode demorar muito mais do que os controladores gostariam. Para o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, episódios como o do dia 30 não podem se repetir. “A greve é um direito que tem de ser exercido com moderação”, afirmou, enquanto participava de uma audiência pública na Câmara dos Deputados.

Diante das perspectivas cada vez menores de uma negociação e com o recuo do governo, cresce entre os controladores de vôo a idéia de pedir uma baixa coletiva. “Não é o posicionamento da Associação Brasileira de Controladores de Tráfego Aéreo, mas percebemos um grupo mais agitado com a situação”, afirma o presidente da entidade, Wellington Rodrigues. Pelas contas dele, o número de profissionais que cogitam a idéia do desligamento chega a 50, só em Brasília.

Cardoso, do Sindicato Nacional dos Trabalhadores na Proteção ao Vôo, confirma a informação. Ele ressalta que, mesmo individualmente, a idéia passa pela cabeça de muitos controladores. “Vemos um esforço maior por parte de quem pode abandonar a profissão”, diz. Para o presidente da ABCTA, a pecha de sabotadores, entre outros ataques que a categoria vem sofrendo, está contribuindo para um clima ruim dentro dos centros de controle.


Turma de civis em sala de aula


Num esforço para solucionar parte da crise no setor aéreo, um grupo de 64 pessoas selecionadas em um concurso público, realizado há sete anos pelo Comando da Aeronáutica, começou um curso para a formação de Controlador de Tráfego Aéreo, em São José dos Campos, a 90km de São Paulo. É a primeira turma de civis depois do início do apagão aéreo, no ano passado.

Selecionados no concurso no ano 2000, somente depois do acidente aéreo que matou 154 pessoas e deflagrou a crise no setor, no final de setembro do ano passado, é que os futuros novos controladores foram chamados para iniciar o curso. As aulas sobre navegação aérea, comunicações, meteorologia, serviços de informação aeronáutica, tráfego aéreo e controle tiveram início ontem no Instituto de Controle do Espaço Aéreo (Icea) nas dependências do Comando Tecnológico Aeroespacial (CTA).

Serão nove meses de curso, onde o aprendizado da língua inglesa se tornou uma grande preocupação. “O inglês é um desafio internacional, para se buscar acertar sempre em comunicações. É preciso se aperfeiçoar cada vez mais. Por isso, temos que atingir os modelos internacionais”, disse em entrevista coletiva o diretor do Icea, coronel Paulo Roberto Ferraz.

Sem fazer comentários sobre a crise no setor aéreo, o militar enfatizou que o papel do instituto não é fazer avaliações, mas realizar, “com qualidade e paixão”, a formação dos profissionais. “A crise faz parte do processo de maturação do país. O CTA não fala em crise, nossa tarefa é formar o melhor profissional para enfrentar tudo isso. O CTA não só forma, também desenvolve pesquisas neste setor, buscando sempre um resultado.”

Estágio
O Icea formou no ano passado 1.200 profissionais, entre civis e militares, em 50 cursos ligados a Aeronáutica. “Neste ano devemos chegar a 1.600 profissionais”, previu. Ferraz não revelou quanto é investido pelo governo no curso de controlador, mas mostrou todas as salas por onde os alunos vão passar, inclusive onde estão painéis e simuladores de torres de tráfego aéreo, e ressaltou que, depois do curso, os alunos ainda passam por estágio e período de rigorosas avaliações. “São três anos de período probatório, onde o profissional é avaliado e, se não corresponder às funções, pode ser exonerado do cargo.”

Enfatizando que o Comando da Aeronáutica sempre tem a intenção de acertar, de aprimorar o conhecimento dos profissionais que atuam no setor, o diretor também preferiu não opinar sobre a desmilitarização do comando sobre os controladores de tráfego aéreo. “A excelência do controle do espaço aéreo depende de todos, de civis, de militares. O brasileiro tem que sentir orgulho da nossa capacidade de navegação aérea nacional e internacional”, disse.

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