quinta-feira, 22 de março de 2007

Essa é a polícia do tucanos em SP: PMs são acusados de matar soldado e irmã e culpar PCC

Nem todos os policiais militares assassinados durante as ondas de ataques ordenados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) foram vítimas do crime organizado. Dois PMs do 18º Batalhão estão presos no Presídio Militar Romão Gomes, acusados da morte do soldado Odair José Lorenzi e da irmã dele, Rita de Cássia, numa emboscada na Vila Nova Cachoeirinha, zona norte de São Paulo, no dia 12 de julho de 2006. Pelo menos outros cinco casos semelhantes estão sendo investigados pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Os soldados Rogério Alberto Sol Júnior, de 26 anos, e Róbson da Costa Oliveira, de 36, foram apontados como autores do crime pelo exame de balística feito no Instituto de Criminalística. Eles tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada, no dia 7, pela juíza Tatiana de Oliveira, do 2º Tribunal do Júri (Fórum Regional de Santana).


O laudo atesta que o único tiro que acertou a testa de Rita, causando a morte, partiu da pistola calibre 40 do soldado Oliveira. O exame não conseguiu mostrar de que arma saíram os três tiros que mataram Lorenzi, mas revelou que ele trocou tiros com Sol Júnior. Os projéteis alojados no colete à prova de balas e na virilha do sobrevivente foram disparados do revólver 38 do PM morto.


Versão


O exame derruba a versão apresentada pelos PMs à Polícia Civil e à Corregedoria. Oliveira e Sol Júnior contaram que, no dia dos fatos, por volta da meia-noite, faziam patrulhamento nas proximidades da Rua Alfredo Werner, quando ouviram disparos de uma arma de fogo.


Eles teriam parado para atender à ocorrência, quando foram alvejados por quatro indivíduos armados e revidaram. Na troca de tiros, Sol Júnior foi atingido duas vezes. Os atiradores teriam fugido, antes da chegada de reforço policial. Em seus relatos, os soldados afirmaram que só souberam dos ataques a Lorenzi e Rita quando eles deram entrada no centro médico, levados por outros colegas, chamados para intensificar a caça aos supostos atiradores.


Lorenzi foi encontrado caído na frente do portão da casa e Rita, no quarto do andar superior do sobrado. Segundo parentes ouvidos no dia do crime, Lorenzi ouviu vozes masculinas chamando seu nome no portão. Ao atender, foi baleado à queima-roupa. A irmã, Rita, acordou com o barulho dos disparos e saiu na janela para ver o que estava acontecendo. Levou um tiro certeiro na testa. No dia seguinte, a Polícia Militar chegou a divulgar que os assassinos dos irmãos seriam os mesmos que atacaram Oliveira e Sol Júnior.


Segundo o corregedor-geral da PM, José Paulo Menegucci, Sol Júnior era tratado como vítima até setembro, quando começaram a surgir informações de que policiais militares estariam envolvidos nas mortes dos irmãos. Ainda não se sabe o que teria motivado o crime. No fim daquele mês, as armas dos soldados foram apreendidas a pedido do DHPP. Com a divulgação do laudo do IC, no início de março, pediu-se a prisão temporária. Cópia do laudo também foi remetida à corregedoria, que solicitou a prisão temporária dos acusados junto à Justiça Militar.


Mudança


O soldado Lorenzi vivia com a namorada, Leuda Rocha, de 23 anos, no mesmo imóvel onde moravam a mãe e os outros quatro irmãos. O casal tinha um filho de 4 anos. A irmã era separada e deixou dois filhos, de 14 e 19 anos. A execução era vista como marco inicial da segunda onda de ataques do PCC.


A reportagem voltou ontem à cena do crime, mas não encontrou os familiares de Lorenzi. Segundo vizinhos, a família, que morava havia mais de 20 anos no local, mudou-se depois da tragédia. “A mãe perdeu dois filhos de uma só vez. E nós perdemos grandes amigos. Era uma família ótima e festeira, que não suportou continuar nessa casa”, disse uma vizinha que não quer ser identificada.

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