terça-feira, 6 de março de 2007

Os cenários da insensibilidade


O consórcio de empreiteiras (Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e OAS – Obras do Amigo Sogro) não autorizou, ainda, aos técnicos dos órgãos encarregados do laudo sobre o desabamento a descerem ao tal buraco. A alegação é que estão criando condições de segurança.

Segurança para elas, as empreiteiras, evidente. Preparando todo o terreno para que sejam isentas de culpa. Devem estar criando condições para que os laudos possam demonstrar que as vítimas foram culpadas e, portanto, seus familiares é que devem indenizar os bandos/empreiteiras.

Tem sido assim em várias situações semelhantes.

A insensibilidade tomou conta do ser humano, dos grandes negócios aos pequenos. Tanto faz que seja uma empreiteira, ou que seja um ser/máquina, querendo saber se o outro fica ou não chateado com uma troca. O importante é o ganho. O fim do mês. Ou o início do mês.

Constrangimentos? Isso não existe. Existe a minha vida, os meus negócios, danem-se as vítimas.

Negócios se misturam à falta de escrúpulos, ou a vingança de pedras que se supõem com almas e vontades. As almas já foram roubadas e as vontades são as do que puxam as cordinhas e pagam no fim do mês, ou no início. Ou as propinas.

Lula enfrentou uma situação delicada, no mínimo, na Bahia. O prefeito da cidade. O prefeito José Ronaldo, da cidade de Feira de Santana, durante o ato de inauguração da fábrica da Nestlé (multinacional da fome e da predação), destacou o trabalho do governador Paulo Souto, do grupo de ACM. Na verdade Souto foi quem levou a Nestlé para Feira de Santana. Lula e Jacques Wagner, o novo governador do Estado, apenas participaram da inauguração, fato normal em se tratando de autoridades.

O político em si é uma coisa, a franqueza do prefeito e a situação criada, mas é real. Wagner, difícil definir a razão, foi sensato e reconheceu que a importância (?) da Nestlé ali se devia ao governador anterior.

Lula preferiu falar sobre os feitos de seu governo. Exibe realmente dados diversos e bem melhores que os do governo da quadrilha tucana, falo de FHC. Mas tudo dentro do mesmo esquema neoliberal, inclusive o tal PAC. O que vai fazer o País crescer.

E junto com esse crescimento as empreiteiras no esquema de parcerias público privadas, os bancos, as grandes corporações, enfim, os principais acionistas do Estado, os controladores.

Bush que não é bobo, vem ao Brasil, de nariz torcido, mas vem. Preferia Alckmin, tem que tratar de segurar Lula dentro dos conformes e assim evitar que o brasileiro siga a tendência de governos como o de Hugo Chávez e Evo Morales. E de quebra, mais à frente, manda Bento XVI, o egresso da juventude nazista, agora papa, um dos mais qualificados funcionários da organização Casa Branca nos braços do grupo fora do território dos EUA.

A Xuxa de batinas, Marcelo Rossi, deve participar, lógico, tem que ter show.

É impressionante como o ser humano não se percebe sendo destruído no pressuposto que a vida é assim. Sai correndo atrás do “tudo é possível”, mergulha nos ensinamentos de Cristo, busca formas até de andar, pisar e se vestir, mas tranca-se em casa e em si, por não perceber que o coração e a alma foram roubados. Ou sai pelo mundo de um jeito doidivano.

Há uma história, dessas que se contam a guisa de ilustrar várias situações, que diz que quando Deus olhou o mundo e sentiu falta de alguma coisa resolveu criar o ser humano. Sem saber onde guardar a chave da criação, dar sentido ao seu gesto, acabou por guardá-la no coração da própria criação. O ser se descobriria ali se fosse capaz.

O mundo dos donos arrancou os corações, sumiu com as chaves e os seres vão, cada vez mais, virando pedras, sem que se percebam roubados no que lhes é essencial: a vida. Nestlé, Paulo Souto, Lula, o chefe ali do lado na mesa de cima, bonzinho e respeitoso, tudo faz parte do contexto Mad Max de um imenso deserto de almas e corações, muito maior que os de areia.

É uma pena. Tanto massacram um “velho”, como deixam perplexos e decepcionados um jovem, também não importa a integridade e a dedicação nem de um e nem de outro.

O importante é o fim ou o princípio do mês. O resto?

Tem um monte de situações em que a gente esconde o vazio parecendo fazê-lo cheio.

Importante é ser pedra e sobreviver na selva de pedra a qualquer custo. Ou ceder de forma direta, ou não ceder e engolir as concessõe. Digeri-las com os medicamentos dos laboratórios que “restituem” a vida. E lucram nessa mentira.

No mais é gritar aleluia, aleluia. Vem aí o PAC, vem aí o Papa, mas antes tem o carnaval. Dias de rei e princesa “pra tudo se acabar na quarta-feira”.

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