quarta-feira, 21 de março de 2007

Faltou um técnico

Não havia um especialista em eletricidade no aeroporto de Brasília, no último domingo, capaz de evitar o blecaute que, juntamente com a forte chuva em São Paulo, foi decisivo para provocar um caos em todo o país


Pela segunda vez em pouco mais de três meses, o país ficou refém de um técnico. Ou melhor, da falta de um profissional. Um dos motivos para o agravamento da crise nos aeroportos no último domingo, um blecaute no aeroporto de Brasília, foi provocado pela falta de um especialista na área. No dia, havia apenas um plantonista generalista, que resolvia desde problemas elétricos à falta de material de escritório. “Foi uma lambança”, define um integrante do grupo de trabalho responsável por apurar as causas do “apagão” aéreo mais recente.

O que se viu no último domingo foi um quase uma reprise da crise registrada no final do ano passado. No dia 7 de dezembro, os principais aeroportos do país ficaram praticamente parados devido a uma pane no sistema de comunicação entre as aeronaves e os controladores em Brasília. O problema poderia ter sido evitado caso houvesse um técnico capaz de identificar e resolver o defeito. A Aeronáutica foi obrigada a importar um profissional especializado na área.

Para os passageiros, o blecaute no último domingo foi sentido por apenas 30 minutos. Mas para quem trabalhava no aeroporto, a falta de luz durou quase todo o dia. Segundo fontes do governo, o que ocorreu foi uma sucessão de problemas. Apesar de o aeroporto dispor de um moderno sistema elétrico, no domingo o fornecimento de energia era feito pelo circuito principal e o reserva. No início do dia, um deles deixou de funcionar. Um disjuntor deveria ter sido acionado automaticamente para restabelecer o fornecimento de energia, mas a máquina não funcionou. Havia um disjuntor reserva para ser colocado no lugar, mas o técnico de plantão não sabia instalar.

Sem ocorrência
Ao mesmo tempo, outro curto-circuito provocou o desligamento dos painéis de aviso de chegadas e saídas de vôos. Das 19h do último domingo às 14h da segunda-feira, o problema técnico no aeroporto de Brasília deixou os passageiros sem informação alguma sobre partidas e chegadas. Apesar dos transtornos pela falta de luz, nem a Companhia Energética de Brasília (CEB) foi acionada. Não há registros de ocorrência deste blecaute na distribuidora.

Enquanto técnicos tentavam resolver o problema, o gerador do aeroporto entrou em operação e a energia foi gasta até o final. O resultado foram sucessivos picos de luz, que prejudicaram o controle das aeronaves, atrasando ainda mais os vôos. Além do blecaute, uma pane no sistema que cataloga os planos de vôos e a interdição da pista do aeroporto de Congonhas (SP), devido às chuvas, foram decisivos para a quase paralisação dos vôos em todo o país. Um dia depois da crise, a Infraero decidiu fazer uma contratação de emergência de um técnico especializado na área. Já o grupo de trabalho responsável por apurar as causas do blecaute deve enviar, até o final da semana, o relatório final ao Palácio do Planalto.

Ontem à tarde, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, recebeu no aeroporto a visita do ministro de Minas e Energia Silas Rondon. Pereira se limitou a informar que o ministro estava no terminal para conhecer o funcionamento do sistema elétrico, mas não se pronunciou sobre os motivos da pane do domingo. A falta de informações foi a mesma por parte do Ministério da Defesa.

Enquanto o recente apagão aéreo continua sem explicação oficial, passageiros já conseguiram respirar mais aliviados ontem. Até às 18h, 197 vôos decolaram com mais de uma hora de atraso. Isso representa 14,6% do total de vôos programados para o dia. Na segunda-feira, foram 30% de atrasos. No Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, apenas 11 vôos decolaram 60minutos após o previsto. Em Brasília, foram 90. De acordo com a Infraero, os atrasos ainda são reflexo dos incidentes do domingo.

Mesmo com o fluxo de vôos praticamente restabelecido, os passageiros continuam sofrendo as conseqüencias. Às 11h20, o empresário Altari Nodari, 55, ainda não tinha sido chamado para embarque no seu vôo para Cuiabá – previsto para sair às 9h50. Não conseguiria chegar à tempo para uma reunião de negócios. “Estou perdendo dinheiro”, desabafou.

O número
197 vôos estavam com decolagem atrasada mais de uma hora, até as 18h de ontem, o equivalente a 14,6% do total

Memória
Salvos por um francês

Uma pane ocorrida no dia 7 de dezembro no sistema de comunicação do 1º Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta 1), paralisando os principais aeroportos do país, não serviu de aviso para o setor aéreo. Naquela ocasião, o então comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, admitiu que não havia no país, dentro e fora dos quadros militares, um único técnico capaz de identificar e resolver o problema no equipamento, responsável pela distribuição de telefonia e das freqüências utilizadas para a comunicação entre controladores e pilotos.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, chegou a declarar que “por sorte” havia um técnico francês em Manaus especialista no aparelho, de origem italiana. Uma sindicância apontou erro humano como causa do defeito, e não sabotagem — acusação que pesava sobre controladores que estariam pretendendo eximir a classe de responsabilidade no acidente da Gol, em setembro de 2006.

0 Comentários em “Faltou um técnico”

Postar um comentário

 

Consciência Política Copyright © 2011 -- Template created by Consciência Política --