sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Aécio pavimenta 2010 com ampliação do leque político do PSDB


O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), chega ao final do primeiro ano de seu segundo mandato com a clara estratégia que pavimentará seu futuro político: pela ampliação do leque político do PSDB, que inclui uma inflexão na trajetória de confronto aberto com o governo federal, reforçada com a rejeição pelo Senado da emenda constitucional que prorrogaria a cobrança da CPMF.

O primeiro passo dessa estratégia é a escolha de um candidato de consenso à prefeitura de Belo Horizonte na eleição de 2008, que coloque no mesmo palanque o PSDB, o PT e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). Este palanque serviria de laboratório para a arena política pretendida pelo governador mineiro em 2010. É esse seu principal ativo político para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A expectativa alimentada no Palácio da Liberdade é que Aécio possa vir a atrair o chamado bloco de esquerda (PSB, PDT e PCdoB) para apoiar uma eventual candidatura sua, tendo possivelmente Ciro como seu vice. Desta forma, o DEM seria ultrapassado na condição de parceiro preferencial do PSDB em uma aliança nacional. Esta estratégia parte do pressuposto de que a aliança governista, excessivamente heterogênea, não rumará unida em 2010 e o PT corre o risco de disputar isolado de seus parceiros de 2002 e 2006. Só uma aliança dessa magnitude daria ao governador mineiro o trunfo necessário para sua batalha interna contra o governador paulista José Serra pela candidatura presidencial tucana.

Uma composição Serra/Aécio já foi descartada no Palácio da Liberdade. A arrogância freqüentemente associada à imagem dos tucanos poderia ser fortalecida na hipótese de uma chapa puro-sangue e, ainda mais, unindo os dois Estados mais ricos da Federação. A presença do vice de um outro partido na chapa também seria imprescindível para não deixar o PSDB isolado no cenário eleitoral.

Caso não seja candidato à Presidência, Aécio deverá tentar o Senado. O vice-governador, Antonio Junho Anastasia (PSDB), é uma possibilidade para sua sucessão, mas não estão descartados outros nomes, como o do próprio prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT). Mas essa dobradinha estaria subordinada ao sucesso da parceria do governador e do prefeito em 2008.

A sucessão em Belo Horizonte é um dos passos na direção de diminuir o confronto com Brasília. O mais forte postulante ao cargo, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT), já anunciou publicamente que não será candidato. Nas hostes tucanas, a pré-candidatura do ex-ministro das Comunicações e ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga, tampouco entusiasma o partido. Não há outros nomes naturais para a sucessão de Fernando Pimentel (PT) nem na esfera tucana, nem na petista na capital mineira.

Uma candidatura consensual , em que Pimentel e Aécio poderiam apoiar um nome de prestígio, sem mandato eleitoral, que pertença a um terceiro partido, aliado do PT na esfera federal e do PSDB na estadual, como o PSB de Ciro Gomes, é cogitada entre tucanos mineiros. A premissa é que a polarização entre petistas e tucanos é um fenômeno que ocorre com força em São Paulo, mas não se reproduz no resto do país.

Aécio Neves empenhou-se junto com José Serra para reverter a tendência do PSDB de impor uma derrota parlamentar ao governo. Chegou a dar entrevistas comemorando um acordo com o governo baseado na CPMF exclusiva para a Saúde que, segundo ele, daria uma forte bandeira eleitoral ao PSDB. Em entrevistas logo após a votação, lamentou o resultado.

A avaliação generalizada entre os governadores do PSDB é que o partido teve uma vitória de Pirro ao rejeitar a prorrogação da emenda constitucional. Em Minas, avalia-se que o resultado final se deve à atuação exclusiva do líder da bancada no Senado, senador Arthur Virgílio Neto (AM). Por esta versão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é isento de responsabilidade pela vitória parlamentar. O ex-presidente teria aceito um acordo em torno do repasse integral da CPMF para a Saúde. Dentro do PSDB mineiro, teme-se que o partido seja responsabilizado pelo governo federal por crises de financiamento na área de Saúde.

Os governadores tucanos reclamam das perdas financeiras que os Estados terão, com a falta de uma contribuição que teria a integralidade de seus recursos repassada para a Saúde, conforme o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teria se comprometido. Apenas para Minas, a aprovação renderia R$ 1 bilhão a mais em 2008.

Trunfo de Aécio para a disputa interna com Serra é a expectativa de atrair Ciro para uma chapa em 2010

Em uma reunião que a cúpula do PSDB irá fazer no próximo mês, Aécio deverá se alinhar entre os que reclamam da falta de uma identidade mais clara para o partido. O governador costuma defender um rumo de mitigação do clima de confronto com o Planalto. É uma visão compartilhada por parte da cúpula do PSDB, que afirma que a aliança governista é muito heterogênea para ter uma candidatura única em 2010 e o PT tende a apresentar-se isolado dos seus tradicionais parceiros à esquerda, que hoje formam o bloquinho (PSB, PCdoB e PDT). A agressividade precoce da oposição, entretanto, poderia forjar uma união dos adversários e um engajamento maior do presidente no processo eleitoral.

A partir da sucessão municipal, o PSDB deverá entrar na fase decisiva para a escolha entre Serra e Aécio. O governador de São Paulo conta com o apoio interno do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e está melhor posicionado nas pesquisas.

Apesar do apoio do ex-presidente a Serra, Aécio cultiva a proximidade com antigos colaboradores do governo FHC, como os ex-integrantes da equipe econômica hoje abrigados na Casa das Garças, centro de estudos econômicos de economistas ligados à PUC do Rio.

A arma de Aécio seria sua presumida maior capacidade de articulação para virar o jogo. Os tucanos mineiros ainda contam com um suposto sentimento anti-paulista que estaria crescendo em outros Estados, já que o PSDB, assim como o PT, jamais teve um candidato presidencial que não tivesse vindo da sua seção paulista. Vieram de São Paulo todos os presidentes desde 1994. Em 2010, o partido que não tivesse um candidato paulista poderia capitalizar esta animosidade regional.

Os dois governadores estabeleceram um pacto de convivência em meados do ano. Na ocasião, Aécio teria advertido Serra que não procurasse construir uma candidatura presidencial impondo uma derrota ao mineiro, mas que ao invés disso tentasse conquistá-lo. Sob pena de fragilizar a capacidade de Aécio de carrear-lhe os votos de Minas. Os dois teriam concordado em adiar o debate interno para 2009. Mas, posteriormente, Serra conquistou os principais postos no comando do PSDB, no momento em que o partido renovou sua direção. Aécio já mencionou a possibilidade de o partido realizar prévias internas para a escolha de seu candidato.

A possibilidade de prévia, contudo, é vista por aliados de Aécio como manobra dissuasória. O governador mineiro apostaria que o pragmatismo irá prevalecer no partido, que não admitiria correr o risco de uma terceira derrota consecutiva, depois das de Serra, em 2002 e Geraldo Alckmin, em 2006. Nas pesquisas, Serra chega a pontuar 35%, enquanto Aécio não passa de 20%. Estrategistas do governador mineiro, no entanto, apontam a diferença entre o grau de conhecimento de um e de outro no eleitorado nacional: 90% e 40%, respectivamente.

Como discurso, dificilmente Aécio sairia da linha já adotada nas duas últimas eleições, em que o partido bate na tecla da gestão eficiente e profissionalizada, que não aparelha a máquina estatal. O "choque de gestão" é um dos slogans usados por sua administração. Aliados do governador avaliam que a estratégia não deu certo nas eleições anteriores em função da presença carismática de Lula no quadro de candidatos. Pela primeira sem o presidente entre os postulantes, o discurso poderia emplacar.

No Palácio da Liberdade se admite, entretanto, que a comparação entre o governo atual e o de Fernando Henrique poderá ser um peso para o partido, já que ainda se detecta, nas pesquisas de opinião, a percepção de que foi um governo importante, mas que não deixou saudades.

A possibilidade de Aécio sair do PSDB, já enfraquecida pela recente decisão do TSE que torna passível de cassação do mandato o político que trocar de partido, parece hoje sepultado, segundo afirma repetidas vezes o governador mineiro. Sobretudo em relação ao PMDB, o partido que corteja de maneira mais aberta o governador mineiro. Além da dificuldade previsíveis de fechar um partido tão fragmentado quanto o PMDB, há problemas regionais importantes, como a composição com o ex-governador Newton Cardoso, adversário histórico de Aécio.

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