quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Lula: 'Mercosul é filho feio que ninguém quer'


Em seu discurso na reunião de chefes de Estado do Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a unidade do bloco e cobrou de seus colegas mais rapidez nas decisões. Lula comparou o Mercosul a um filho feio que ninguém quer, queixou-se da lentidão na concretização de acordos devido a pressões de "inimigos internos e externos", e disse que os presidentes devem fazer valer seus mandatos sem ceder a um ou outro setor.

- O Mercosul é como um filho feio que colocamos no mundo e, às vezes, somos tão exigentes com ele que só vemos as coisas feias nele. É como dizer para nosso filho que ele é feio, tem nariz grande, orelhas grandes. Vamos colocar um pouco de beleza nesse filho.

O presidente aproveitou para fazer um mea culpa, ao afirmar que o bloco não avança em parte por conta dos presidentes dos países-membros.

- Às vezes, não fazemos valer o mandato presidencial que conquistamos nas urnas. Uma decisão técnica não pode se sobrepor à nossa. Não podemos governar nossos países pensando nesse ou naquele setor. Temos que pensar no conjunto da economia.

Burocracia atrasa acordos da Petrobras

Referindo-se abertamente à Petrobras, ele citou como exemplos de acordos que demoraram a funcionar por razões de ordem técnica e burocrática os firmados nos últimos dias na Venezuela e na Bolívia, em razão de divergências entre a estatal brasileira e as petrolíferas dos dois países.

- Quando chegamos à Venezuela, a PDVSA e a Petrobras não estavam de acordo. Precisamos chamar as duas empresas e decidir. Na Bolívia, foi a mesma coisa com a Petrobras e a YPFB. O tempo da política não é um tempo técnico. No caso da Bolívia, em dez minutos firmamos um acordo.

Lula também demonstrou insatisfação com a proposta do presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, de negociar acordos de livre comércio separadamente, especialmente com os Estados Unidos. Para o presidente brasileiro, isso é mais um entrave à integração.

Outro insatisfeito declarado, o presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, afirmou estar mais otimista, uma vez que o Mercosul estaria mais "atlético" e menos "paquidérmico". Já a argentina Cristina Kirchner - que enfrentou o constrangimento de visitar um país com quem a Argentina briga por ter instalado uma fábrica de celulose na fronteira - disse estar feliz pelo Uruguai ter reafirmado sua permanência no Mercosul.

Venezuela cobra aprovação de sua adesão ao bloco

Já o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, cobrou ontem dos parlamentos do Brasil e do Paraguai a aprovação do protocolo de adesão de seu país ao Mercosul. Chávez se queixou do longo tempo de espera, ao discursar na reunião de chefes de Estado do bloco.

- A Venezuela merece um prêmio à resistência, porque está há nove anos pedindo para entrar no Mercosul - afirmou o líder venezuelano. - Tomara que nossa entrada seja concretizada em breve, para abrir as comportas das importações de bens e serviços e, em seguida, dar mais ajuda aos países menores (Uruguai e Paraguai).

Chávez também defendeu o ingresso da Bolívia no Mercosul e assegurou que não voltará a fazer parte da Comunidade Andina de Nações (CAN), da qual saiu em meados do ano passado.

Ontem foi inaugurada uma agência do Banco do Brasil em Montevidéu, e anunciada a instalação de um escritório do BNDES na cidade, o primeiro fora do Brasil. De acordo com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, o total de projetos na América Latina financiados pela instituição é de R$2 bilhões.

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