Depois de meses de luta contra a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), o medo de ver uma defecção na bancada a favor do governo levou ontem o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), ao plenário do Senado. Tanto Maia quanto o líder do PSDB no Senado, senador Arthur Virgílio (AM), fizeram esforços para confirmar com os aliados o "não" que pode se concretizar na votação de hoje - ou nos próximos dias, se a pauta cair. Mas, de antemão, mandaram o recado: haverá punições imediatas para infidelidades.
O caso do DEM é mais complicado. Para Romeu Tuma (PTB-SP) e César Borges (PR-BA), até dois meses atrás democratas e hoje governistas, Maia esboça uma reação de cobrar no Supremo Tribunal Federal os mandatos da dupla pela troca de partido caso votem a favor do governo. A preocupação do DEM, no entanto, é com os dois senadores de Mato Grosso, Jayme Campos e Jonas Pinheiro. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, eles são assediados pelo governador do Estado, Blairo Maggi (PR), que prometeu a Lula converter o voto de ambos - mas não disse como.
A dúvida de Jonas Pinheiro em contrariar o DEM, que fechou questão de bancada, foi prova de que Maggi alcançou os ouvidos do democrata. E irritou Rodrigo Maia, que ameaça expulsar quem ajudar o governo. "O Blairo é do PR, que ele cuide do partido dele, que tem uma história feia", criticou o presidente do DEM, usando o adjetivo para se referir ao caso do mensalão, em que o PR foi envolvido.
Maia assegurou que não haverá problemas na bancada. Jayme Campos, outro senador que conversou com Blairo, ainda não se pronunciou. Mas a consulta feita por Jonas ao diretório estadual do DEM, que o liberou para votar, não terá o mesmo efeito no diretório nacional, garantiu Rodrigo Maia. "Não vai acontecer isso em hipótese alguma (voto a favor da CPMF). Os senadores do DEM fecharam questão contra a CPMF. O diretório estadual do partido em Mato Grosso não tem nenhuma autoridade para liberar o voto do senador Jonas Pinheiro -- e ambos sabem disso. Se ele contrariar uma decisão que ele mesmo ajudou a tomar, seguramente será punido. A punição vai de uma advertência à expulsão com perda de mandato", avisou.
O líder do DEM, Agripino Maia (RN), endossou. "Não há mais o que discutir. O partido já fechou questão. O partido tomará uma posição contra quem desobedecer. Eu espero que o senador Jonas Pinheiro tome a posição que ele mesmo assumiu diante do partido".
O PSDB, que não fechou questão mas vive ainda sob o cerco do Planalto, também ameaça os senadores. Eduardo Azeredo (MG), aliado do governador mineiro Aécio Neves, de quem sofre pressão, disse ontem que é voto contra, mas estava disposto ao diálogo com o governo se houvesse proposta. Arthur Virgílio não gostou. "Vamos votar unidos, a bancada terá um voto só. O que pode haver é alguma proposta do governo que seja relevante e que possa ser discutida. Tempo para isso, há. Se eu fosse governo, hoje, buscaria uma solução", lembrou Azeredo.