sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Lula elogia democracia venezuelana em visita a Caracas


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem reiterados elogios à democracia na Venezuela, em sua primeira visita ao país desde que o colega Hugo Chávez perdeu o referendo para fazer mudanças constitucionais. Sem demonstrar abatimento pelo fim da CPMF, Lula disse que "há muito tempo a Venezuela não vive o momento que vive hoje, exercitando a democracia na sua plenitude".

Pela primeira vez na história venezuelana, segundo o presidente, "o povo pobre tem acesso a tomar café da manhã, almoçar e jantar, começa a ter acesso ao consumo, acesso ao crédito".

"É uma novidade extraordinária", ressaltou o presidente Lula, em alusão ao crescimento da Venezuela por 16 trimestres consecutivos, durante pronunciamento dirigido a empresários dos dois países no Palácio Miraflores, a sede do governo.

Ao presidente Chávez, Lula fez juras de que "a nossa relação de amizade será eterna", mas destacou a necessidade de aprofundar o comércio e o investimento bilaterais. Em momento de fragilidade política, após sua primeira derrota eleitoral em nove anos e enfrentando uma crise de abastecimento de produtos básicos, Chávez agradeceu os elogios do presidente brasileiro. "Nos cenários mais difíceis, te perguntavam o porquê dessa relação com Chávez, o tirano e ditador", ironizou. "Você sempre deu uma resposta do coração. Obrigado, companheiro."

Mas a parceria entre Petrobras e a venezuelana PDVSA, principal eixo da integração bilateral, ficará pela metade, ao menos a princípio. Ao fim da reunião entre Lula e Chávez, a estatal brasileira anunciou que ficará com 60% de participação acionária em uma empresa mista a ser criada para gerir a refinaria Abreu e Lima, no Estado de Pernambuco. A petrolífera venezuelana terá 40%.

Não prosperaram, no entanto, as negociações para outro empreendimento conjunto entre os dois países: a exploração e produção do bloco petrolífero Carobobo 1, na faixa do Orinoco, que detém uma das maiores reservas mundiais de óleo pesado. Os dois projetos sempre foram colocados como empreitadas "casadas" - no caso de Carobobo, o plano original era que a PDVSA tivesse participação de 60% e a estatal brasileira, 40%.

De acordo com comunicado conjunto divulgado pelas duas empresas, a PDVSA informou que iniciará sozinha a exploração do bloco, "mantendo aberta" a possibilidade de entrada da Petrobras no empreendimento. Na capital venezuelana, a estatal brasileira negou que tenha fracassado nas discussões e afirmou que elas serão retomadas no início de 2008.

As duas empresas firmaram um "contrato de longo prazo", cuja duração não foi revelada, para o fornecimento de 100 mil barris diários de petróleo à nova refinaria brasileira. As obras de terraplenagem em Pernambuco começaram em setembro e a Petrobras tem pressa em concluí-las até 2010. A capacidade da refinaria será para processar 200 mil barris por dia de petróleo pesado, com produção especialmente de óleo diesel.

Lula aproveitou o discurso no Miraflores, onde 130 empresários brasileiros o assistiam, para apregoar a necessidade de mais investimentos na América do Sul. Segundo o presidente brasileiro, Brasil e Venezuela devem "pagar o preço" da integração regional e ajudar os países menores. Antecipou, inclusive, que retomará as discussões para novos investimentos na Bolívia, em visita que fará ao presidente boliviano Evo Morales, a partir de domingo.

A construção de um pólo gás-químico na fronteira entre os dois países e uma usina hidrelétrica binacional no rio Madeira serão temas da agenda com Morales, adiantou Lula. São investimentos que o Brasil "nunca deveria ter deixado de fazer", disse o presidente, que minimizou os conflitos recentes na comercialização do gás natural.

"Tentaram criar uma celeuma entre eu e o Evo Morales. Imagina, seria o fim do mundo a gente ter uma divergência, quando eu entendia que o gás era da Bolívia e (ela) tinha o direito de fazer aquilo", afirmou Lula, que também fez críticas indiretas a governos anteriores: "Vou fazer de tudo para que o meu sucessor tenha que trabalhar menos do que na política de integração".

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