segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Recessão nos EUA ameaça o dólar


A idéia de que o dólar pode perder a hegemonia como referência do sistema cambial mundial tem ganhado força à medida que a moeda se aproxima de fechar mais um ano com forte desvalorização.

Além da ameaça chinesa de diversificar as divisas que compõem suas reservas, o que derrubaria ainda mais a confiança no dólar, o temor de uma recessão na economia dos Estados Unidos adiciona incerteza no horizonte para o dinheiro americano. O processo de derrocada do dólar está ligado às fragilidades da economia americana, sem solução no curto prazo, o que reforça a hipótese de perda da hegemonia do dólar.

A hipótese é possível e a chance não é pequena, até porque o dólar perde valor há quatro anos de forma consistente - avalia Ricardo Amorim, diretor de estratégia para mercados emergentes do banco WestLB. - São vários os fatores que pressionam o dólar, mas o principal tem sido a fragilidade da economia americana, com os déficits comercial e fiscal.

Frente ao euro, o dólar vai fechar o segundo ano consecutivo em desvalorização, com queda de 5,96% em 2006 e de algo próximo a 13% este ano. Em relação ao iuan, este ano será o terceiro ano seguido de baixa, com desvalorização esperada de 7% este ano.

Se olharmos o câmbio real, descontando a inflação, o dólar está na mínima histórica em mais de 40 anos - destaca Amorim.

A situação da economia americana pode se agravar ainda mais, como conseqüência da crise no mercado de crédito imobiliário. Quanto menor o juro nos EUA, na tentativa de impedir uma recessão, menor o interesse do investidor pela moeda. Desde setembro, quando a crise das subprimes se intensificou, o Fed já efetuou três cortes consecutivos na taxa, que caiu de 5,25% ao ano para 4,25%. Ainda assim, uma recessão não está descartada.

Os Estados Unidos podem entrar em um momento muito ruim, como reflexo da crise no crédito, o que estimulará ainda mais o crescimento do déficit - explica Carlos Ayres, coordenador do MBA de finanças da Faap. - Não vejo, no médio prazo, em torno de cinco anos, chances de melhora na economia do país que reduzam o déficit e ajudem na recuperação da moeda americana.

Além dos problemas internos, outra ameaça à moeda americana vem da China, que já avisou ter a intenção de diversificar suas reservas internacionais. Hoje, a China tem US$ 1,4 trilhão nos cofres, volume bem superior às reservas de países como Japão (US$ 954 bilhões) e Rússia (US$ 446 bilhões).

A ameaça da China de incluir outras moedas nas reservas já é uma forma de questionar o modelo de dólar como referência no câmbio - diz o professor Ayres. - Mesmo que uma pequena parte das reservas chinesas migrassem para outras moedas, ainda assim o efeito sobre o dólar seria muito forte, o que exigiria muita cautela por parte do governo chinês se de fato for colocar em ação esta idéia.

O economista Ricardo Amorim é mais cauteloso.

O governo da China tem ameaçado substituir parte das reservas em dólar por outra moeda, mas considero pouco provável que isto ocorra - diz. - Eles usam a ameaça para impedir que o governo americano adote medidas protecionistas no campo comercial, pois sabem do efeito que uma diversificação teria sobre o já depreciado dólar.

Duopólio cambial

Um dos pontos de sustentação do dólar como referência no câmbio é o fato de não existir hoje uma moeda com força para substituí-la de imediato. O euro, por exemplo, padece da falta de unidade no crescimento econômico dos países que compõem a União Européia.

A economia na região não é tão forte assim, perto da americana, e anda muito dependente do desempenho da Alemanha - explica o professor Carlos Ayres. - É difícil uma única economia sustentar o euro como moeda de referência no câmbio.

A idéia de um duopólio, ou seja, o dólar disputando espaço com outra divisa, que pode ser o euro ou outra moeda asiática, é considerada uma hipótese pouco provável.

O que pode ocorrer é um momento de transição em que o dólar conviva com outra moeda, dispute espaço. Passada essa fase, no entanto, uma das duas moedas irá se sobrepor - diz Amorim, do WestLB, ao prever um duopólio só na transição.

Apesar de o cenário sugerir tendência de baixa do dólar, que pode levar ao seu enfraquecimento definitivo, o período de tempo em que isso ocorreria é uma incógnita. - Não dá para saber, os ciclos cambiais são longos e um processo de substituição de uma moeda de referência tende a ser longo - diz o professor Ayres.

O cenário para a contínua desvalorização do dólar, com perda de espaço no sistema cambial existe, mas é preciso lembrar que interromper esse processo está nas mãos dos Estados Unidos - pondera Amorim. - Se os problemas que tornam frágil a economia americana forem resolvidos, o processo se interrompe e o dólar tem ainda muito espaço para seguir como referência cambial.

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