segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Consumo dispara sobre quatro rodas


Pela primeira vez desde que iniciou a produção de veículos no Brasil, em 2001, o grupo PSA, proprietário das marcas Peugeot e Citroën, vai manter as atividades da fábrica de Porto Real (RJ) nas últimas semanas de dezembro, quando tradicionalmente ocorre a paralisação das linhas de montagem. Em um ano de superação antecipada de todos os recordes de vendas no país, a montadora francesa decidiu adiar as férias coletivas e iniciar o terceiro turno de trabalho a partir do dia 3 deste mês para atender à grande demanda de automóveis pelos consumidores brasileiros.

A decisão de adiar as férias coletivas do fim de dezembro, segundo a empresa, não vai prejudicar os funcionários, que terão férias em períodos de janeiro e fevereiro. Medidas assim não evidenciam, no entanto, uma situação vivida exclusivamente pela montadora francesa.

Assim como a PSA, outras montadoras sentem o reflexo do crescimento da indústria automotiva no Brasil. O número de carros vendidos este ano deve superar a marca de 3 milhões de unidades, cifra 14% superior à do ano passado. Sozinho, o aquecido setor - que engloba montadoras e fabricantes de autopeças - já responde por 18% do Produto Interno Bruto industrial e 5% do PIB nacional. Graças à produção acelerada, as montadoras recolheram aos cofres da União, em forma de impostos, R$ 20,21 bilhões, alta de 14,8% sobre igual período de 2006. Até o fim do ano, o segmento deve pagar mais R$ 10 bilhões em tributos.

Com 115.057 carros de passeio e comerciais leves vendidos de janeiro a novembro deste ano no Brasil, só a PSA registra crescimento de 34,1% em comparação ao mesmo período de 2006, quando a empresa comercializou 85.808 unidades.

Para intensificar a produção de veículos em 2008, as montadoras também têm recorrido à renegociações com fornecedores. A General Motors (GM) já pediu todo o empenho dos seus fornecedores, ao informar que vai aumentar a capacidade produtiva no próximo ano.

A GM está mandando especialistas em ferramentaria para trabalhar junto com os fornecedores e ajudá-los a atender a lista de pedidos - disse Johnny Saldanha, vice-presidente de compras da GM LAAM, a região que inclui América Latina, África do Sul e Oriente Médio.

Depois de visitar vários países como China, Coréia, França, Alemanha, Colômbia e, na última semana, o Brasil, o vice-presidente mundial de compras da General Motors, Bo Andersson, falou sobre as estratégias de compras da General Motors Corporation.

Estamos vendo um grande crescimento da América Latina e queremos comprar componentes onde produzimos nossos carros - disse Andersson.

A GM compra peças e componentes de 3,2 mil fornecedores globais, 700 dos quais do Brasil, em um gasto total de US$ 90 bilhões por ano. Com 485 mil carros emplacados até o último dia 21, segundo dados preliminares liberados pelo Registro Nacional de Veículos Automotores, a montadora americana fecha este ano com 20,2% de participação sobre o total de 2,4 milhões de veículos (incluindo caminhões e ônibus) que haviam sido emplacados até o dia 21 deste mês no país.

Falta de engenheiros

Para 2008, a meta da montadora, segundo Andersson, é aumentar entre 10% e 20% o volume de vendas no Brasil. Johnny Saldanha não acredita em uma bolha de crescimento no mercado brasileiro.

A GM tem planejamento fechado para 5 e 10 anos, pois acredita que o crescimento do setor automotivo será sustentado e a economia deverá continuar crescendo - assegurou.

O que poderá barrar esse crescimento, segundo Flávio Del Soldato, presidente da Usiparts, empresa do grupo Usiminas e membro do conselho administrativo do Sindipeças (sindicato que representa as autopeças), é a falta de profissionais no setor, principalmente na área de engenharia.

A expansão continuará nos próximos cinco anos. Se houver problemas daqui para frente, será por incompetência da cadeia de fornecedores.

Del Soldato comentou que, de acordo com pesquisa do Sindipeças, 77% das empresas de autopeças decidiram fazer investimentos independente de avisos do crescimento do setor automotivo.

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