quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Analistas já prevêem saldo comercial de US$ 20 bi


Com o aprofundamento da crise americana e o temor de contágio em outros mercados, pioram as expectativas para a balança comercial brasileira em 2008. Alguns economistas estimam saldo inferior a US$ 30 bilhões e as projeções mais pessimistas já falam em US$ 20 bilhões, metade dos US$ 40 bilhões obtidos em 2007, quando o Brasil registrou a primeira queda no superávit da balança em dez anos.

Uma recessão nos Estados Unidos tende a prejudicar o saldo das trocas externas brasileiras, porque as exportações seriam afetadas com mais força e mais rapidamente que as importações. Uma desaceleração global reduziria o preço das commodities e a quantidade de produtos exportados. Já as importações devem se manter fortes por um bom período, impulsionadas pela demanda interna, que levaria mais tempo para ser prejudicada.

O departamento econômico do Bradesco estima saldo de US$ 32 bilhões este ano, mas já admite que pode ser inferior a US$ 30 bilhões, dependendo da economia global. "O momento é de cautela. Estamos no olho do furacão", diz um economista do banco. A hipótese otimista está baseada no crescimento de economias emergentes, como China e Índia, que compensaria a desaceleração americana. Esses países manteriam aquecida a demanda por soja e carnes, produtos importantes na exportação brasileira. O cenário, porém, torna-se menos provável à medida que a crise nos EUA se aprofunda.

Levantamento do Banco Central com bancos e consultorias demonstra que a expectativa em relação ao saldo da balança comercial em 2008 está se deteriorando. Em agosto do ano passado, os agentes de mercado estimam, na média, superávit de US$ 37 bilhões. Essa previsão recuou para US$ 34 bilhões no fim de novembro e US$ 30 bilhões na sexta-feira, antes das bolsas de valores derreterem ao redor do mundo nesta semana.

Para a JGP Gestão de Recursos, o saldo da balança comercial deve ficar em US$ 25 bilhões em 2008. O economista Fernando Rocha projeta forte crescimento para as importações, estimuladas pelo nível de atividade e pelos investimentos. Além disso, o câmbio barato funciona com um estímulo extra. "O mercado estava subestimando as importações", diz Rocha. A projeção considera recuperação da economia americana no segundo semestre. Se a crise for mais séria, o superávit pode cair para algo entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões.

Marcelo Carvalho, economista-chefe do Morgan Stanley, foi um dos primeiros a prever saldo de US$ 20 bilhões para a balança comercial em 2008. Ele aponta duas justificativas: a desaceleração da economia global que reduz o preço das commodities e as quantidades exportadas, enquanto a economia interna mantém a importação em ritmo acelerado. "Na exportação, o impacto da crise americana é direto na veia", diz Carvalho. Já o reflexo nas importações aconteceria em menor escala e com maior defasagem. O economista explica que deve levar algum tempo até que uma desaceleração global afete os principais motores do crescimento do Brasil: expansão do crédito, mercado de trabalho favorável e confiança do consumidor e do empresariado.

Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, pondera que as exportações brasileiras para os EUA já vinham fracas devido ao desaquecimento da economia do país e da valorização do real. Ele explica que a principal dúvida é o contágio de mercados como União Européia e China, importantes clientes do Brasil. Na sua avaliação, a China também é vulnerável, já que exporta muito para os EUA.

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