Fernando Sarney, filho do senador José Sarney (PMDBAP) e operador financeiro da família Sarney no Maranhão, pode ser indiciado por lavagem de dinheiro, crime tributário e contra a ordem financeira. Desde 2006, é investigado pelo Ministério Público (MP) e pela Polícia Federal por movimentações financeiras suspeitas às vésperas do segundo turno da eleição daquele ano. No pleito, sua irmã Roseana perdeu a disputa ao governo do Maranhão para Jackson Lago (PDT) e nas contas controladas por Fernando Sarney foi identificada uma movimentação que totalizaria R$ 3,5 milhões. Segundo o inquérito do MP, Fernando também teria criado uma factoring destinada às transações da família Sarney, a São Luís Factoring e Fomento Mercantil Ltda. Com movimentação anual de R$ 100 milhões, a São Luís, de acordo com a investigação, seria o elo com o Sistema Mirante de Comunicação, rede de emissoras de rádio, televisão e jornal de propriedade dos Sarney. A factoring está registrada no nome da mulher de Fernando, Teresa Murad Sarney, que também é alvo do inquérito. Para chegar aos vultosos valores, o Ministério Público contou com a ajuda da Polícia Federal, em Brasília. À PF coube autorizar as quebras de sigilo fiscal, bancário e telefônico dos investigados.
A PF entrou no caso que envolve Fernando Sarney alertada pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda. As altas somas que circularam pelas contas da família Sarney intrigaram o Coaf. Em 23 de outubro, o empresário Eduardo de Carvalho Lago, casado com a irmã de Teresa Murad, depositou R$ 2 milhões na conta da Gráfica Escolar, da família Sarney. No dia seguinte, o dinheiro retornou à conta de Lago. Depois, foi para a de Fernando. Seu primeiro saque foi de R$ 1,2 milhão, em 25 de outubro. Outros R$ 800 mil foram retirados no dia 26. De acordo com o MP, entre 27 de setembro e 27 de outubro, mais R$ 1 milhão teria sido sacado das contas da TV Mirante. Os saques, na agência 2192 do Bradesco, onde Fernando Sarney possui conta, eram todos feitos em espécie. O dinheiro foi retirado por funcionários da emissora. Como as transações foram feitas no período eleitoral, os procuradores suspeitam que os saques possam guardar relação com o financiamento da campanha de Roseana. Fernando Sarney trabalhou na campanha como tesoureiro informal. Procurado por ISTOÉ, o advogado de Fernando Sarney, Paulo Baeta, não foi localizado.
Fernando Sarney guarda semelhanças com outro filho de político maranhense, Edison Lobão Filho. Essas semelhanças vão muito além do fato de serem filhos de políticos influentes no Maranhão. Apesar de levarem a marca da política no sangue, ambos nunca ocuparam cargo eletivo. Preferiram enveredar por outra área, a empresarial. Hábeis na arte da negociação, Edinho, filho do senador e futuro ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), e Fernando prosperaram e se tornaram empresários de sucesso. Coincidência ou não, escolheram o mesmo ramo. O da comunicação, embora não seja o único em que eles circulam e fecham negócios altamente lucrativos. Os dois também acalentam o mesmo sonho: o de serem herdeiros políticos do chamado clã Sarney. Por isso, rivalizam nos bastidores. Não bastasse a trajetória, os gostos semelhantes e a ligação quase umbilical, agora, em meio a uma queda-de-braço no governo pelo controle do setor energético, os maranhenses são companheiros de infortúnio. Como Fernando, Edinho está sob a alça de mira da Polícia Federal e do Ministério Público.
Edinho está sendo acusado, em investigação da Polícia Federal, de transferir sua participação na distribuidora de bebidas maranhense Bemar a uma empregada doméstica, Maria Lúcia Martins, sem o conhecimento dela. A intenção seria a de usá-la como laranja para esconder dívidas. O DEM, partido de Edinho, já cobrou explicações. Suplente do futuro ministro Edison Lobão, Edinho corre o risco de não assumir a vaga deixada pelo pai. "Meu filho é absolutamente inocente, e deve assumir. Mas deve se licenciar, se for conveniente", disse o pai, Lobão, depois de ter seu nome confirmado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Ministério de Minas e Energia. "Ele já disse que pretende se defender fora do Senado. Tem 60 dias para assumir e estamos avaliando essa hipótese", acrescentou. A doméstica recebe R$ 380 de salário e trabalha para Marco Antonio Costa, amigo de Lobão Filho e seu sócio na Bemar. Em meio à disputa pelo controle do setor energético, tanto Edison Lobão quanto Sarney têm atribuído as acusações a setores do governo interessados em enfraquecê-los politicamente. Por ora, o bombardeio a que estão submetidos Edinho e Fernando Sarney não foi capaz de atingir o patrono da família. Mas, no governo, há quem aposte que a dupla pode provocar um curto-circuito irremediável nas Minas e Energia de Sarney.