sábado, 19 de janeiro de 2008

Escondendo os interesses


E a eleição municipal? Ela é mesmo a ante-sala, a porta de entrada das demais eleições? Muita gente acha que sim. Muita gente dá uma importância danada para as municipais, porque imagina que são elas que mostram os humores daqueles que vão votar. É como a moda inventada por esses costureiros que se dizem de vanguarda - antecipa tendências.

Principalmente numa cidade como São Paulo, pelo seu tamanho, pela sua riqueza, pela sua pobreza, pela sua importância, qualquer eleição desperta a atenção de todos. Mas depois da televisão e da propaganda, cada vez mais sofisticada, que é feita na política, a importância da eleição municipal precisa ser relativizada.

É claro que as eleições para prefeitos e vereadores consolidam as estruturas políticas e partidárias, que no fim vão ajudar as eleições dos governadores, senadores e deputados. Mas com relação ao presidente da República, o papel mais importante para que uma candidatura consiga chegar ao eleitor está reservado à mídia, na propaganda do rádio e da televisão, sem sombra de dúvida.

A disputa em São Paulo pode ser sim o aperitivo, pode ser o esquentamento para a eleição presidencial, porque, muito provavelmente, serão as mesmas forças que vão se enfrentar: os tucanos contra os petistas. Então a escolha do prefeito paulistano pode ter um aspecto simbólico. Mas de resto tudo é diferente. O discurso é outro, a abordagem dos temas não é a mesma. E a televisão, pelo menos em parte, torna desnecessário o trabalho de organização partidária regionalizada na eleição presidencial. Isso por um motivo simples: não existe mais palanque. O palanque está nos meios de comunicação. Esse é o palanque que faz a cabeça dos que vão decidir a escolha do novo presidente.

No caso de São Paulo, por enquanto, a briga é paroquial. O lado petista está mais tranqüilo porque não tem alternativa, ou vai de Marta Suplicy, ou corre o risco de levar uma tunda espetacular, daquelas com direito a entrar na história. Agora, os tucanos precisam se entender rapidamente, porque a briga já começou e envolve esquemas que não interagem.

Os envolvidos diretamente na questão da prefeitura - Gilberto Kassab, Geraldo Alckmin e José Serra - estão sendo cuidadosos. Mas os principais chefes dos Democratas e do PSDB não têm esses cuidados e estimulam a aliança entre eles deixando histéricos aqueles que estão na margem do processo e que dependem de cargos para sobreviver. Do lado dos ex-pefelistas os principais batedores de bumbo pela aliança são o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, o seu filho, Rodrigo Maia, que é o atual presidente dos Democratas e, ainda, o ex-presidente do partido, Jorge Bornhausen. Do lado dos tucanos, Fernando Henrique Cardoso saiu na frente para dizer de público que é importante que um acordo seja firmado com relação à prefeitura de São Paulo e prossiga até a eleição presidencial de 2010.

Muita gente não está gostando nada disso. Principalmente do lado dos tucanos, que vêem no acerto uma armação para colocar desde já José Serra como único candidato da oposição em 2010. Aécio Neves pulou rápido para apoiar a candidatura de Alckmin para a prefeitura e se posicionar contra Serra. A maioria da bancada paulista dos tucanos ficou furibunda porque imagina que o apoio à reeleição de Kassab implica em perda de espaço.

E com toda a confusão começam a aparecer aqueles que descobrem vãos de oportunidade para apostar no imponderável. Um exemplo desse tipo de atitude é a candidatura de Arthur Virgílio para a presidência da República. É claro que ele não tem a menor chance de fazer vingar o seu projeto e nem se deslumbrou com aqueles 15 minutos de destaque que lhe foi proporcionado na liderança do partido no Senado no momento da queda da CPMF. Arthur Virgílio aposta é na confusão. E vai que meia dúzia de outros que não tem compromisso com nada embarcam na sua canoa. Aí vai ser preciso alguma negociação e alguma coisa ser dada em troca para que ele tire essa idéia da cabeça. A manobra é nitidamente oportunista e mostra a falta de coesão dentro do PSDB.

Os defensores das candidaturas de Marta Suplicy e Geraldo Alckmin usam como ponto de referência nas suas justificativas o fato dos dois estarem na frente das pesquisas. Uma observação lógica, mas que não é totalmente verdadeira. Primeiro porque estar na frente não significa vitória. Depois porque a eleição da prefeitura de São Paulo não é única, onde se joga o tudo ou nada.

Existe um ciclo, uma coleção de eleições que definem, aí sim, o perfil político do país. O ciclo atual de eleições começa com as municipais para se encerrar dois anos depois, em 2010, com a eleição dos governadores, senadores, deputado e o presidente da República. Como o ciclo anterior que se fechou em 2006.

Na verdade tanto aqueles que apóiam Marta como os que apóiam Alckmin querem criar uma situação de fato. Querem impor as duas candidaturas, não porque sejam as melhores, mas porque têm interesses nelas. E assim o joguinho político vai cumprindo o seu papel de mascarar a realidade para facilitar a vida de uns e de outros.

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