É preciso ficar de "olhos bem abertos" para a crise econômica dos EUA, apesar da boa situação dos fundamentos da economia brasileira, avisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na primeira reunião ministerial do ano. "Uma crise americana é sempre uma crise americana", disse Lula. O alerta do presidente foi transmitido aos ministros logo após uma exposição, de quase dez minutos, do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sobre o assunto. A crise deve ser acompanhada "com atenção, mas com serenidade", porque ninguém sabe sua extensão e gravidade, avisou Meirelles.
Meirelles, segundo um ministro, disse acreditar que a desaceleração da economia norte-americana deve sim ter efeito sobre a economia brasileira. A "projeção mais sólida" para o crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro em 2008 é de 4,5%, informou, descartando hipóteses mais otimistas. Ele ponderou, porém, que as exportações do Brasil são hoje mais diversificadas e que apenas 17% - segundo cálculo destacado por outro ministro, na reunião - são destinadas aos EUA.
Segundo o presidente do BC, não é possível dizer se a crise atual é o sinal de uma recessão ou apenas uma desaceleração da economia americana. Ele argumentou que o Brasil reúne condições "extremamente favoráveis", como nunca aconteceu antes nas crises internacionais. Além dos fundamentos em ordem, Meirelles chamou a atenção para o fato de que os bancos brasileiros não foram atingidos pela crise do mercado hipotecário americano, da qual não escaparam nem bancos europeus nem asiáticos.
Meirelles também disse que a manutenção do crescimento da economia asiática deverá funcionar como contraponto à desaceleração norte-americana, amenizando os efeitos mundiais da crise. Ao mesmo tempo, fez questão de frisar que nem mesmo a China passou ao largo do problema: bancos chineses compraram títulos públicos americanos e começam a sofrer os primeiros abalos.
Lula disse que a proteção experimentada neste momento pelo país foi obtida graças ao esforço do governo em promover os ajustes necessários na economia. "E não vamos abrir mão de nada que fizemos até agora; vamos continuar mantendo a mesma política de equilíbrio fiscal".
A pressão do funcionalismo público por aumentos salariais este ano também foi tema da reunião. Nesse ponto, o próprio Lula disse que o governo pretende honrar os acordos já firmados com diversas categorias de servidores. Mas sinalizou que isso não necessariamente ocorrerá ainda este ano nem com a pressa pedida pelo funcionalismo. "Não estamos acabando com o diálogo, nem com a negociação, mas não podemos implementar aumentos no gasto com pessoal antes de ter uma visão clara do equilíbrio entre receita e despesa; ministro não é líder sindical", disse ainda o presidente, segundo um de seus auxiliares.
A pedido de Lula, Meirelles atravessou a terça-feira em conversas com presidentes de bancos centrais europeus e de bolsas de valores internacionais. Pouco, antes da posse do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ainda na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega foi ao gabinete do presidente para dizer que a Bovespa estava em queda acentuada, seguindo uma tendência mundial. "Mantega, estou indo para a posse do Lobão, depois passe na minha sala, junto com Meirelles", reagiu Lula. Ápós ouvir o relato de Mantega, ordenou que os dois - Mantega e Meirelles - tomassem o pulso dos BCs europeus. Mantega deveria fazer a exposição ontem, na reunião ministerial, mas uma crise de canal dentário o impediu de chegar a tempo.
Apesar de ter dito que não conversariam sobre o PAC no encontro - alegando que o balanço de primeiro ano do programa havia sido apresentado no dia anterior -, Lula avaliou que "as coisas estão acontecendo num ritmo adequado" e que as obras em execução são essenciais para garantir o crescimento econômico.