sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Brasil teme "populismo de esquerda" no Paraguai


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem, em audiência no Palácio do Planalto, o general Lino Oviedo, candidato ao governo do Paraguai e que, durante 18 meses esteve detido no Brasil, acusado de preparar um golpe de Estado e planejar o assassinato do vice-presidente Luis Argaña. Por temer a eleição do ex-bispo Fernando Lugo, que explora em sua campanha um crescente sentimento antibrasileiro no país vizinho e na região, o governo brasileiro torce, discretamente, pela vitória do polêmico Oviedo.

"Populista de esquerda", na definição de um ministro de Lula, Fernando Lugo, segundo algumas pesquisas de opinião, lidera a corrida presidencial. Ele é explícito ao defender, em sua campanha, a revisão do tratado Brasil-Paraguai que rege o funcionamento da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional. "O ideal seria Oviedo e [Blanca] Ovelar, [candidata da situação, ex-ministra da Educação do presidente Nicanor Duarte] se aliarem para enfrentar Lugo. É o único jeito de derrotá-lo", comentou um assessor de Lula.

Ciente de que defender mudanças em Itaipu rende votos em seu país, Oviedo é ambíguo ao tratar do tema, embora faça isso de forma bem menos enfática que Lugo. Ontem, depois de se encontrar com Lula, o general afirmou que, se houver pontos "injustos" no tratado da usina, ele poderá ser rediscutido. Mas acrescentou que todas as mudanças seriam resolvidas com base em "diálogo" e na "democracia". "Não tenho conhecimento pleno do tratado. O que posso dizer neste momento é que o objetivo primordial está sendo assegurado: garantir a integração energética entre os dois países", declarou.

Oviedo disse apoiar a política externa brasileira de fortalecer os países do Mercosul e, sobretudo, os que fazem fronteira com o Brasil. Ele disse não ter esquecido a hospitalidade brasileira e enfatizou que foi absolvido das denúncias contra ele. "Provei minha inocência em todas as instâncias."

As eleições estão marcadas para o dia 20 de abril. Oviedo disputa palmo a palmo com Blanca Ovelar e Fernando Lugo. Apesar das efusivas demonstrações de simpatia ao presidente Lula, Oviedo afastou toda e qualquer interferência do presidente brasileiro no processo eleitoral paraguaio. "O presidente Lula me ressaltou a auto-determinação dos povos e a autonomia do povo paraguaio."

Sobre a presença de um amigo de Lula em sua campanha - Valter Sâmara, dono de um cartório em Ponta Grossa (PR) -, Oviedo assegurou que não tratou desse tema com o presidente brasileiro. "Falamos sobre as políticas de integração do continente. Não tratamos em absoluto sobre esse senhor a quem vocês se referiram", disse.

O candidato paraguaio demonstrou interesse em incluir o Brasil nas conversas sobre a construção da hidrelétrica de Corpus, uma parceria entre o Paraguai e Argentina. Oficialmente, não houve qualquer proposta efetiva nessa direção, mas Oviedo fala nos esforços brasileiros para uma "integração energética da América do Sul".

O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, negou que o governo brasileiro torça por Oviedo. Lembrou que o presidente Lula tem adotado a estratégia de receber todos os candidatos presidenciais do continente. No dia 11 de dezembro, Lula recebeu a candidata do Partido Colorado, Blanca Ovelar. Por enquanto, não há qualquer indicação de que Lugo vá se encontrar com Lula. "O presidente não convida ninguém. Cabe a eles pedirem uma audiência", disse um assessor da Presidência.

Marco Aurélio afirmou que a presença de um amigo do presidente, Valter Sâmara, em atividades de campanha de Oviedo não tem relação com o governo brasileiro. "O presidente Lula tem vários amigos e eles têm diversas opções políticas e ideológicas." O assessor especial negou que, durante as eleições bolivianas, o governo brasileiro tenha declarado apoio a Evo Morales, que acabou eleito. "O que o presidente Lula disse foi que, para a Bolívia, seria um momento histórico importante a eleição de alguém com a origem de Evo."


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