Agora, é guerra. A posse ontem do novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), no Palácio do Planalto, acirrou a disputa entre PMDB e PT pelos cargos do setor elétrico. Apesar do clima de aparente festa da cerimônia, peemedebistas admitiam, reservadamente, a insatisfação com a resistência do governo em abrir espaço ao partido no ministério. Publicamente, tentaram pôr panos quentes.
Dono das maiores bancadas da Câmara e do Senado, o PMDB quer mais postos em presidências e diretorias de estatais. Não aceita mais desempenhar o que chama de papel de “rainha da Inglaterra”. Leia-se: comandar a pasta, mas não mandar em sua estrutura. Já os petistas avisam que não estão dispostos a ceder espaço, sobretudo em funções estratégicas.
Integrante do PMDB, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, foi um dos que tentaram minimizar o atrito, embora tenha admitido que o PT não quer ceder. “Não há nenhum tipo de confronto. O PT, legitimamente, quer manter seus espaços. O governo vai administrar isso”, disse. O discurso foi compartilhado pelo líder do PMDB na Casa, Valdir Raupp (RO), que tentou justificar a decisão do governo de segurar alguns postos do Ministério de Minas e Energia a nomes indicados pelo PT. “Não existe porteira fechada. Se o PMDB ocupar 50% dos cargos, isso já é bastante”, afirmou.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva também buscou amenizar, publicamente, a disputa. “Na política, precisamos saber fazer alianças com os contrários, na adversidade”, afirmou. Nos bastidores, porém, ninguém esconde a briga. Os petistas lembram, por exemplo, que uma eventual candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República em 2010 dependerá do sucesso do modelo energético implantado no primeiro mandato do presidente Lula e do exorcismo do fantasma do apagão. Por isso, a prioridade é manter as rédeas do setor nas mãos de Dilma e do PT.
Diante da possibilidade de ruptura entre as duas principais legendas da coalizão governista, Lula recomendou aos rivais que busquem um equilíbrio de forças. Antes mesmo de ser empossado, Lobão fez um aceno nesse sentido ao escolher Márcio Zimmermann, avalizado por Dilma, para secretário-executivo do ministério. Agora, a ministra prepara a retribuição, apoiando o ex-presidente da Eletronuclear Flávio Decat para a presidência da Eletrobrás. “Decat é um craque, fez carreira no setor. Em função dos desafios da área de energia, exige-se que os indicados tenham capacidade técnica”, diz o senador Delcídio Amaral (MS). Ex-líder do PT, Delcídio é uma das provas de que a troca de gentilezas está prestes a acabar. Na semana passada, reuniu-se com Dilma para pedir a manutenção de Nestor Cerveró na Diretoria Internacional da Petrobras. O posto é cobiçado pela bancada do PMDB na Câmara, que defende o nome de Jorge Zelada, gerente de Engenharia da empresa.
Constrangimento
Ontem, líderes peemedebistas alegavam ainda não ter sido contemplados no rateio de cargos. Ressaltavam que Lobão é da cota do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP). E acrescentavam que o resto do partido ainda espera a nomeação — além de Decat e de Zelada — de Lívio de Assis para a presidência da Eletronorte. Diretor do Detran do Pará, Assis é uma indicação do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA).
Para ter mais chances de conquistar tais posições, o PMDB desistiu da indicação do ex-governador Paulo Afonso à presidência da Eletrosul. Apadrinhado pela líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), o ex-deputado Jorge Boeira tende a ficar com o posto. A disputa pela Eletrosul mostra, por exemplo, como Lobão não terá tanta autonomia no cargo. A desistência do PMDB pelo comando da estatal foi decidida antes da posse do senador, numa reunião entre as principais lideranças do partido. O novo ministro ficou de fora. Após a posse, ele se irritou com a informação de que seu partido abrirá mão desse cargo. “Nada está decidido. Tudo será definido em reuniões comigo. Eu vou ter carta branca”, disse, tentando disfarçar o constrangimento.
Ainda sem força no ministério, Lobão ganhou elogios de Lula na cerimônia de posse. O presidente mirou as críticas de que o novo ministro não tem qualquer experiência com energia. “Não precisa ser técnico para ser ministro. Nem todo técnico de futebol foi o melhor jogador do time”, afirmou.
Filho volta do exterior
Além de precisar explicar a falta de força para nomeações no Ministério de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA) não escapou ontem de, mais uma vez, falar sobre as denúncias contra seu filho, Edison Lobão Filho (DEM-MA). Empresário e suplente de Lobão no Senado, Edinho, como é conhecido, é acusado de usar laranjas para ocultar a propriedade em uma empresa de bebidas e de irregularidades no arrendamento de uma emissora, entre outras coisas.
Ontem, Lobão reafirmou que Edinho assumirá sua vaga no Senado e se licenciará logo depois para se defender. No lugar, entrará o segundo suplente, Remi Ribeiro (PMDB-MA). “Ele (Edinho) não deseja imunidade parlamentar para se defender. É uma questão que ele vai responder”, afirmou Lobão.
A assessoria de Edinho informou que o empresário chega do exterior nesta semana para preparar os documentos de defesa. Não há confirmação em relação à data posse. O suplente tem 60 dias para assumir o cargo. Ontem, o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), endureceu o discurso e pediu explicações ao filho do novo ministro. “Não tenho informações sobre o que ele pretende fazer. Acredito que terá disposição de dizer alguma coisa ao Senado. As denúncias precisam ser esclarecidas”, disse. (LC e DP)
Cadeiras disputadas
Estes são os principais postos que acirram a pendenga entre PT e PMDB no setor elétrico
1 Presidência da Eletrobrás: Ocupada interinamente pelo diretor de Engenharia da estatal, Valter Luiz Cardeal, homem de confiança da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A bancada do PMDB no Senado quer emplacar no posto o ex-presidente da Eletronuclear Flávio Decat
2 Presidência da Eletrosul: Exercida interinamente pelo diretor técnico da empresa, Ronaldo dos Santos Custódio. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), quer a nomeação do ex-deputado Jorge Boeira. A bancada do PMDB na Câmara defendia, até o fim do ano passado, o nome do ex-governador Paulo Afonso
3 Presidência da Eletronorte: O titular, Carlos Nascimento, é considerado alinhado demais a Dilma pelo deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que quer substituí-lo pelo diretor do Detran do Pará, Lívio de Assis. A ministra já barrou outras indicações para a estatal feitas pelo parlamentar
4 Diretoria Internacional da Petrobras: O ex-líder do PT no Senado Delcídio Amaral (MS) está em campanha para manter Nestor Cerveró no cargo. Enfrenta a pressão da bancada do PMDB da Câmara, que luta pela nomeação do gerente da Petrobras Jorge Zelada.