Após terem passado um ano de crescimento médio de 21,6% no faturamento, que atingiu R$ 1,9 bilhão, as principais firmas de auditoria do país prevêem novamente uma forte expansão em 2008, em ritmo superior a 20%. Se nos últimos anos a implantação da Sarbanes Oxley e o recorde de aberturas de capital garantiram um número elevado de horas trabalhadas para as empresas de auditoria e consultoria, a adoção do padrão contábil internacional (IFRS, na sigla em inglês) e a nova leva de ofertas públicas iniciais de ações de empresas de porte médio devem ser suficientes para assegurar bons resultados para as firmas do setor em 2008.
O forte ritmo das fusões e aquisições, que aumentaram 43% em 2007, também deve elevar o total de horas trabalhadas das consultorias, seja na assessoria financeira, ou em processos de auditoria. Para completar o cenário positivo para o segmento, a aprovação do projeto de lei 121/2007 (antigo PL 3.741) deve aumentar ainda mais a demanda pelos serviços das empresas do setor, já que as companhias de grande porte que não têm capital aberto também precisarão ter seus balanços auditados.
Com os negócios aquecidos, a disputa por mercado também segue em alta, com destaque para o desempenho da Terco Grant Thornton, que pode superar a BDO Trevisan em faturamento neste ano, e para a KPMG, que levou a maior parte dos clientes perdidos pela Deloitte por conta do rodízio de ex-clientes da Arthur Andersen.
Com a estratégia, a KPMG se consolidou na segunda posição no ranking de auditoria das companhias abertas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com 101 clientes ao fim de junho de 2007, último dado disponível.
A KPMG também teve o melhor resultado no Brasil entre as quatro grandes, com crescimento de 30% no faturamento, que atingiu R$ 404 milhões no ano fiscal encerrado em setembro de 2007. Assim, ela passou a Ernst & Young em termos de faturamento no país. Para 2008, a firma espera crescer no mínimo 20%, mas seu presidente, David Bunce, não descarta repetir a marca vista em 2007. "Embora o orçamento seja mais conservador, vamos lutar para isso", afirma o executivo.
A Deloitte, líder no ranking da CVM, com 113 empresas abertas na carteira, cresceu 25% no ano fiscal encerrado em maio de 2007, para atingir um faturamento de R$ 500 milhões. O impacto da perda líquida de 22 clientes por conta do rodízio deve ser sentido somente neste ano fiscal da empresa, para o qual ela projeta avanço de 18% a 20% na receita. "Mas estou muito satisfeito com este crescimento. Eu estava preocupado (com o efeito do rodízio)", diz Alcides Hellmeister Filho, presidente da Deloitte. Segundo ele, o grande foco que a empresa colocou nas ofertas iniciais de ações, compensou um pouco o impacto da perda de clientes com a troca obrigatória de auditores. Entre as cerca de 70 ofertas registradas em 2007, a Deloitte atuou como auditora em mais de 20 operações. Em análise na empresa, existem outras 30 ofertas de ações.
A PricewaterhouseCoopers (PwC), cujo faturamento cresceu 18% no ano fiscal terminado em junho de 2007, permanecei como a empresa de maior receita no setor, com volume de R$ 550 milhões. No ranking da CVM, no entanto, ela aparece na quarta posição, com 55 clientes, logo atrás da BDO Trevisan, que atende 60 companhias abertas. Com quase metade do ano fiscal já transcorrido, o crescimento da receita da PwC está em 14%, mas Otavio Maia, sócio líder de serviços de consultoria da firma, prevê que ele se acelere para 20% no ano fechado, se a crise americana não piorar. Segundo ele, no último trimestre do ano passado algumas empresas se retraíram, e acabaram adiando alguns negócios.
Com desempenho abaixo do das principais rivais, com crescimento de 11,21% na receita nos 12 meses terminados em junho de 2007, a Ernst & Young prevê recuperação e projeta aumentar o faturamento em mais de 20% no ano fiscal que termina em junho de 2008. Segundo Sergio Ricardo Romani, sócio líder de auditoria da Ernst, a área de assessoria financeira está passando por um dos anos mais aquecidos dos últimos tempos. "A demanda está muito alta e com freqüência temos que trabalhar nos finais de semana", afirma. No ranking da CVM, a firma aparece na quinta posição, com 54 empresas clientes. Para os próximos anos, a lista de companhias que devem estrear em bolsa pode melhorar a posição da Ernst no ranking.