Mantega diz que promessa de Lula era não aumentar imposto em 2007: “Estamos fazendo em 2008”
Com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assumiu mais uma vez o papel de algoz da oposição no Congresso. Após uma reunião com o presidente, coube a Mantega, acompanhado do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, a tarefa de anunciar as medidas que compensam a perda da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Pressionado, o ministro negou que o governo tenha quebrado o acordo com a oposição de não divulgar aumento de imposto em janeiro. “Não significa qualquer tipo de retaliação. É uma compensação modesta. Não é pacote. Estamos mexendo em dois tributos”, afirmou.
O martelo das decisões anunciadas ontem foi batido em reunião entre Bernardo, Mantega e Lula no Palácio do Planalto. O ministro da Fazenda ainda chegou a ironizar a cobrança da imprensa de que o presidente havia prometido, logo após perder a votação da CPMF em meados de dezembro, não aumentar qualquer imposto. “O presidente Lula disse que não mexeria na área tributária em 2007 e de fato não o fez. Estamos fazendo em 2008. Está dentro daquilo que foi estabelecido”, afirmou.
Considerado com pouca habilidade política entre os parlamentares, Mantega sabe que o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ficarão com a responsabilidade de segurar a rebelião da oposição no Congresso.
Fora de Brasília nesta semana, Múcio se disse surpreso com a atitude de Mantega ontem. A amigos, revelou que havia uma expectativa de que algo pudesse ser anunciado. Mas esperava, pelo menos, ser avisado. Não foi. Após a entrevista dada por Mantega aos jornalistas, o ministro teve que ligar ao Palácio do Planalto para tentar receber informações sobre o pacote divulgado pela equipe econômica. “Vamos ver o que acontece”, reagiu sobre as conseqüências no Congresso.
Aviso
Já o líder do governo foi avisado por Mantega antes do anúncio das medidas. Precavido das críticas da oposição, Jucá buscou justificar a atitude do governo. “Foi uma decisão política. Não houve acréscimo tributário. Saiu a CPMF, e aumentamos o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Mudou de nome a contribuição”, disse.
Jucá negou que o governo tenha quebrado algum acordo com a oposição. E compartilhou do discurso de Mantega. “A gente tinha dito que não teria pacote, nem imposto novo. O governo não baixou pacote”, afirmou. “Isso poderia ser feito em fevereiro, mas ficaria em aberto. Agora, temos que trabalhar e mostrar que o governo agiu de forma responsável. Não tem como perder R$ 40 bilhões da CPMF e não ter uma solução responsável.”
Para minimizar o atrito com a oposição, o líder do Palácio do Planalto no Senado ressaltou ainda que o governo discutirá com todos os partidos o corte de R$ 20 bilhões previsto para ajudar a ressarcir os cofres públicos com o fim do imposto do cheque. “Vamos avaliar isso com o Congresso, onde vamos cortar. Será tudo negociado”, afirmou.
Jucá sabe que a oposição vai dificultar a vida do governo no orçamento após a decisão de aumentar impostos. Ciente disso, o líder do governo tentará esfriar os ânimos de DEM e PSDB durante o mês de janeiro. Ele tem reunião marcada com José Múcio para a próxima segunda-feira, quando pretendem avaliar o cenário no Senado após as medidas compensatórias à CPMF. Além de segurar a oposição, eles têm a missão de controlar a rebeldia de senadores governistas, que também sinalizam descontentamento com o reajuste de impostos.
Paulo Bernardo e Mantega disseram ontem que pretendem iniciar as conversas já na semana que vem com a comissão do Orçamento de 2008 no Congresso. Mas qualquer medida prática poderá ser tomada somente após 6 de fevereiro, quando os parlamentares retornam do recesso de fim de ano.